Paris, quando escrevo o nome dessa cidade tenho a impressão de que tudo já foi dito, que todas as informações possíveis já foram dadas. Afinal de contas, “Paris já foi tão descrita e tanto já se ouviu falar dela que a maioria das pessoas sabe como ela é sem nunca ter visto” mas aí lembro de um senhor que conheci ainda criança em uma viagem de família. Conhecemos o Sr. Hélio na Europa, encontramos com ele em Roma e Paris; alguns anos depois embarcando para os Estados Unidos de férias encontrei-o no Aeroporto Galeão no Rio de Janeiro. Depois da surpresa inicial de mais uma vez estarmos nos encontrando, perguntei a ele para onde estava indo: Paris.
Como Paris?! O Sr. já esteve tantas vezes nessa cidade. Ele me disse: Paris não se esgota. Ainda me confessou que todos os anos ia a Europa e passava os últimos dez dias da viagem na cidade luz. Na época, eu ainda adolescente, não consegui entender o que ele dizia mas hoje não só entendo como concordo.
Assim a vida passou……em 2007, contra todas as expectativas, decidi ir à Paris, o orçamento apertado me fez estruturar uma viagem objetiva. Passaria uma semana na cidade para ir aos seus mais importante museus e monumentos. Qual não foi a minha surpresa: Paris não é uma cidade objetiva, tudo lá é subjetivo, percebi isso logo na minha entrada no país. Eu não viajava já tinha alguns anos e estava nervosa com medo da imigração, me lembro que peguei uma bolsa de couro emprestada com uma amiga de minha mãe, coloquei uma calça mais social e preenchi o formulário para entregar na imigração com um francês claudicante. Isso foi o suficiente para a imigração não me notar.
Fui de táxi do aeroporto ao hotel que ficava na Rue Washington a alguns passos do Champs Élysées, você deve estar pensando. Como? Baixo orçamento, sim, o hotel parecia um prédio da Lapa, quem conhece esse bairro do Rio de Janeiro vai entender bem….a chave, era uma chave de ferro que parecia que era da porta de uma masmorra. Fiquei apavorada, estava sozinha em uma cidade estranha em um hotel de filme de terror, larguei minhas coisas no quarto e fui para a rua. Perambulei sem destino até mais ou menos uma da manhã quando resolvi que era hora de dormir. Eu subi o Arco do Triunfo nessa tarde e observando a cidade lá de cima, eu senti algo que já havia sentido há muitos anos, familiaridade, a cidade não me era estranha, nem me assustava, eu não tinha nada a temer.
A semana voou, mas o meu ritmo não foi rápido, queria degustar a cidade, gravar cada momento, queria estar em Paris o máximo possível. Resolvi que iria pegar o metro apenas 2x ao dia para ir para algum destino e para voltar ao hotel, andava uma média de 12km por dia. Todos os principais pontos foram visitados: Arco do Triunfo, Torre Eiffel, Louvre, D’Orsay, Panteão, Sacre Couer, Montmartre, Tuleries, Jardin de Luxembourg, Place des Voges, Centre Pompidou, Les Halles ainda passei um dia no Monte Saint-Michel mas isso é uma outra história.
Por incrível que pareça, o lugar que mais me surpreendeu nessa viagem foi um lugar que não estava no meu roteiro. Uma amiga da minha mãe, não a da bolsa, me pediu um favor, ir até a Rue du Bac 140 comprar algumas medalhas em uma igreja. Confesso que no dia que fui comprar as tais medalhas, acordei achando que perderia um tempo precioso. Peguei o metro e desci na estação Rue Du Bac, parece óbvio mas não é. A estação mais próxima é Sèvre-Babylone que fica a uns 200m, a estação Rue du Bac fica a uns 600m. Tive duas lições nesse dia: primeiro, fazer um favor a alguém de coração aberto se paga, fiquei encantada pela igreja, conheci Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e a vida de Catharine Labouré, toda vez que chego a Paris é o primeiro lugar que eu vou; segundo, o caminho mais longo é o melhor, andei por uma rua residencial, em uma zona não tão turística, com tudo aquilo que eu gostaria de ver, as pessoas e suas vidas cotidianas, foi muito gratificante. Foi quase o melhor dia da viagem.
No meio da semana tive que fazer algo que já estava planejado mas que continha a mesma sensação de perda de tempo. Encontrei a Ness (diminutivo de Vanessa) uma francesa de origem portuguesa, que fazia parte do grupo virtual de scrap da minha prima. Sim, virtual, lembrando que estamos em 2007. Bem, ela e o namorado me pegaram no hotel mas a medida que fomos nos afastando da cidade a minha coluna gelou. E se forem psicopatas? Passei um dia em um subúrbio muito agradável, fui a uma feira de produtos locais no estacionamento de um supermercado e conheci o cornichon, um pepininho em conserva que se tornou um dos meus produtos franceses prediletos.
Essa viagem me marcou muito pois ela me mostrou que sim, eu tinha condições de explorar o mundo, mesmo com um orçamento limitado, que por mais que tenhamos expectativas com relação ao que queremos vivenciar em uma viagem, não existe tempo perdido e que fazer um favor a alguém pode abrir portas que do contrário permaneceriam fechadas. A partir de 2007, minha vida mudou e viajar passou a fazer parte de mim.
A Egotrip Experience é resultado desses anos de viagem e aprendizado, muitas vezes o tempo é curto mas o ritmo determina a qualidade de nossas experiências, e o ritmo é ditado pela nossa capacidade de estarmos no aqui e agora e sermos capazes de aceitar as pequenas e ás vezes grandes surpresas que se apresentam durante a caminhada.
Por meio desse canal, quero compartilhar com vocês minhas experiências e ajudar a cada um a criar suas próprias nos cenários nos quais já caminhei.